A Fábrica Oca, na região leste de Jacareí, foi fundada em 1965, quando, depois de receber uma encomenda para fazer os móveis do interior da Assembleia Legislativa de São Paulo, o arquiteto Sergio Rodrigues buscava um lugar para instalar máquinas para a produção industrial de seus móveis. Ela foi a terceira iniciativa do artista, sucedendo duas fábricas menores que ele montara no Rio de Janeiro.
O terreno em Jacareí tinha cerca de 10.000 metros quadrados e dois galpões de 2.500 metros quadrados cada um, unidos por uma extensa área coberta. As instalações tinham sido construídas pela fábrica Citytex no começo dos anos de 1950. De acordo com Sérgio Rodrigues, o lugar representava uma boa oportunidade para o desenvolvimento de seus negócios de movelaria: "Em 1965, descobrimos uma possibilidade: uma grande firma de colchões que estava em concordata em Jacareí, em São Paulo. Fomos visitar. Tinha máquinas de madeira suficientes, um pouco precárias, mas suficientes. Muitas máquinas e teares. Tinha 40 teares para fazer tecido também. Não seria a nossa produção, mas era sempre uma coisa interessante. (...) Então essa fábrica que tinha 10.000 metros quadrados - era muito grande – foi adaptada para poder atender a grandes pedidos e, no caso então, a encomenda da Assembleia Legislativa de São Paulo".
Na década de 1960, os móveis da Fábrica Oca de Jacareí representavam o que havia de mais moderno na movelaria brasileira. Eles eram produzidos por encomenda ou vendidos nas principais cidades do Brasil. No Rio de Janeiro, eles eram vendidos nas lojas montadas por Sergio Rodrigues. A primeira delas, a Loja Oca, fundada em 1955, funcionava como uma espécie de galeria de Arte e apresentava peças de Sergio Rodrigues e outros artistas de renome nacional. Já a Meia Pataca, inaugurada anos depois, oferecia linhas de móveis mais baratos - principalmente de madeira maracatiara - atingindo a classe média carioca.
É possível dizer que as criações de Sergio Rodrigues testemunharam o nascimento do design de interiores no Brasil. Embalados pelas propostas da Bauhaus alemã, os artistas brasileiros de meados do século 20 buscavam a simplicidade das formas geométricas, a funcionalidade e o conforto das peças, ao mesmo tempo em que tentavam construir objetos que expressassem nossa identidade.
Na obra de Sergio Rodrigues, esse movimento se traduzia no uso de materiais nacionais, como o jacarandá, palhinha ou couro e nos desenhos inspirados em grafismos indígenas. Suas peças abandonavam os entalhes e apetrechos decorativos, como numa resposta à sociedade fabril e utilitária que dava seus primeiros passos no Brasil depois da 2ª Guerra Mundial. A própria escolha do nome na fábrica - Oca - resumia sua proposta de integrar a cultura brasileira com as técnicas industriais, numa organização estruturada, sem formalismos e com utensílios e equipamentos articulados para responder às demandas da vida, tal como as habitações dos índios.
Aliás, como sinal da consagração do design de interiores como expressão artística no Brasil, as peças desenhadas por Sergio Rodrigues e por vários de seus contemporâneos saíam das fábricas grafadas com a assinatura do criador.
Sergio Rodrigues deixou as lojas e as fábricas do projeto Oca em 1968. Então, já tinha desenvolvido algumas de suas peças mais conhecidas, como o Banco Mocho (1954), Sofá Hauner (1955), a Poltrona Oscar (1956) e a famosa Poltrona Mole (1957) que, com o nome escolhido pelos operários da oficina por sua moleza, trouxe a primeira premiação internacional de design ao Brasil, ao vencer o 4º Concurso Internacional do Móvel em Cantu, na Itália. Também já consolidara sua reputação nos círculos artísticos nacionais e internacionais. Em sua trajetória, desenvolveu projetos para o Centro Cívico de Curitiba, a Universidade de Brasília, o Palácio do Planalto, o Itamaraty e muitos outros. Morreu em 2014.
Em 1996, a Fábrica Oca se fundiu com a norteamericana Steelcase, fabricante de móveis de escritório. Entretanto, ela abandonou as atividades em Jacareí poucos anos depois. Nos anos 2000, a fábrica foi alugada à Prefeitura de Jacareí para sediar a Secretaria Municipal de Infraestrutura. Em 2019, o terreno e instalações foram repassados aos representantes da empresa Havan, que construiu uma loja de departamentos no lugar.